domingo, 4 de dezembro de 2011

EXPRESSIONISMO


No término do século XVIII, a Alemanha passava por um caos político trazendo transtornos e guerras horrendas anos mais tarde. Filósofos, humanistas, escritores e artistas buscavam saídas para as dificuldades que enfrentavam o que favoreceu o desenvolvimento da arte alemã, tempos depois, em oposição ao mundo “supermecanizado” e autoritário.
O Expressionismo[1] alemão revela-se como uma extensão dos feitos de Vincent Van Gogh e do norueguês Edward Munch e dominou a pintura e a escultura, a literatura, o teatro e o cinema..  Fadigados do mundo em preliminares bélicas, no início do século XX, artistas distanciam-se da autoridade tradicional da família, da escola ou da academia de arte e, aproximando-se das forças naturais, do que não tem fim, do que está além do planeta como os componentes do grupo “Die Brucke” (A Ponte) e do ” Der Blaue Reiter” (O Cavaleiro Azul) encontrando assim, uma fresta de liberdade.
O expressionista conhece e interpreta o mundo à base de sentimentos e não de sensações. Em face da natureza e do homem, enche-se de dolorosas interrogações espirituais, repassadas de amargura e pessimismo, tocadas também de propósitos éticos e críticas sociais e políticas. Não tem por objetivo representar visualmente as aparências da natureza ou as imagens exteriores, mas utilizá-las para expressar suas realidades interiores, de modo direto e intenso.


Die Brucke (A Ponte)  
Curiosamente os componentes do grupo A Ponte não possuíam experiência em pintura, eram refugiados do curso de arquitetura da Saxônia, e mesmo assim moveram uma pequena parcela de revolução expressando mensagens sociais. A Ponte foi apontada como partícula revolucionária antes de movimento artístico.

Ernest Ludwig Kirchner elaborou e registrou e estabeleceu, em Xilografia, instruções para o grupo que diz assim: “Acreditamos como o fazemos no crescimento e numa nova geração, naqueles que criam e naqueles que apreciam, chamamos todos jovens à união e, como jovens que carregam o futuro em si, queremos arrancar a liberdade para as nossas ações e vidas dos mais velhos, forças confortavelmente estabelecidas. Nós chamamos nosso aquele que reproduz diretamente e sem falsificação, seja o que for que o leva a criar.” Kirchner era autodidata e não possuía amarras da educação artística formal. Sofreu influência de Van Gogh, xilografias medievais alemãs e esculturas africanas e oceânicas. Direcionava seus trabalhos na exploração de técnicas que compartilhassem de uma percepção clara e impressionante. Sua composição de cores distinguia do tradicional harmonizando vermelhos e azuis, roxo e preto, amarelo e ocre, marrom e azul cobalto, chegando a misturar petróleo em suas tintas. Com passar do tempo adquiriu consideráveis habilidades técnicas sem perder a inocência na abordagem visual. Podemos observar estas características em: Mulher Seminua e de Chapéu (76x70) pintado em 1911. Uma composição com arcos contrastantes e complementares marcada por uma espécie de erotismo sugestivo. Boa parte dos expressionistas eram apaixonados pelo submundo e viviam rodeados de prostitutas, alcoviteiros e gangsters que contrastavam com a aparente pureza do seu próprio mundo de sonhos. Kirchner foi um verdadeiro puritano em intenção e um apaixonado em expressão.

Erich Heckel de certa maneira o mais controlado do que os outros membros do grupo A Ponte, embora até sua eg tenha se apresentado ocasionalmente com maior aventura. Seus primeiros quadros têm veemência não controlada do recém chegado tomado pela liberdade que a arte lhe dá, intoxicado pelo sentido de poder sem limite. Construção de Tijolos, de 1907, se utiliza da técnica de espremer o óleo dos tubos direto na tela transmitindo uma intensidade de cores muito parecida com as pinturas de Van Gogh.
Bastante devoto ao conceito do grupo, em 1909 viajou para Itália, onde absorveu a arte etrusca e sua idéia de luz, aproximando-se de algo bastante próximo dos fovistas que haveriam de vir. O trabalho de Heckel, sem dúvida, contribuiu para a arte do século XX. 

Karl Schmidt-Rottuff, o terceiro membro do grupo A Ponte, foi quem inventou o nome para o grupo alegando que este nome manteria o grupo unido e o levaria para o futuro. O mais ingênuo do grupo, raramente apresentava figuras em suas pinturas, introvertido e reservado mantinha um trabalho arrojado e vigoroso, quase grosseiro, com cores fortemente saturadas e grandes áreas de composição sem definição o que o levou quase a abstração. Preferindo paisagens foi auxiliado por Emil Nolde a transpor a barreira do impressionismo, ampliando os horizontes passou a compor com figuras e natureza morta. Após a guerra, para fugir do barbarismo de sua época procurou o simbolismo em correntes literárias e teológicas.

Emil Hansen fora convidado a participar do grupo A Ponte, devido suas obras escritas de tendências sociais e técnicas impressionistas influenciadas por Gauguin, Van Gogh e Munch. Participou do grupo em 1906 e 1907 e após retirou-se para tentar iniciar outro grupo concorrente. Nascido de ambiente simples mantinha uma subcorrente religiosa chegando a confessar que quando criança prometeu a Deus que quando crescesse escreveria um cântico de louvor para o livro de orações, como essa promessa nunca fora cumprida pintou um grande numero de quadros com temas religiosos.  Em Dança em Volta do Bezerro de Ouro suas figuras são traduzidas em hieróglifos em êxtase dionisíaco, violentas em cor e desiguais em forma. Hansen dizia que as pinturas tendem a se desenvolver segundo suas próprias leis, sobre a mão do artista.



Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul) 

            Se comparados com o grupo A Ponte, O Cavaleiro Azul era bem maior, mais amorfo, muito instável em seus integrantes, porém mais ideológicos preocupado com a investigação da relação dos homens com o seu mundo, chegando a publicar um livro anual reunindo artigos e revisões de todas as artes: e assim seus componentes exerceram maior influência  nas Vanguardas.
Klee e Kandinsky são exemplos óbvios de artistas que prosseguiram explorando outros territórios visuais e abriram novos dimensões e experiências. Ambos, mais Feininger tiveram educação musical e interessavam-se pela analogia entre música e a arte. Kandinsky poblicou um livro entitulado O Espiritual na Arte,  e afirma em sua teoria que “ a harmonia e o contraponto podem auxiliar o emprego de cor e linha na pintura, da mesma forma que a música emprega os sons”.
 O nome do grupo surgiu de uma conversa entre Wassily Kandinsky e Franz Marc onde ambos gostavam de azul, Marc de cavalos e Kandinsky de cavaleiros.
Este “Cavaleiro Azul” teve poucos anos de vida, com início em 1911 e término em 1914 seus integrantes seguiram caminhos divergentes, porém enquanto grupo foram minuciosos ao investigar as teorias das cores, com os problemas da percepção, utilizam-se das ciências, exploraram o espaço imaginário e declarando independência dos limites do mundo visível. 

Ernest Ludwig Kirchner, Menina em um sofá azul, 1907. Grupo Die Brücke.
Erich Heckel, “Moinho de vento, Dangast” óleo sobre tela (1909) - Museu Wilheim Lehmbruck, em Dulsburg, Alemanha.
Kandinsky, Grande Estado – 1914 – imagem fotografada do livro O Fovismo e o Expressionismo.
O cavalo azul.  Franz Marc.  1911. Grupo Der Blaue Reiter.
Kirchner, Mulher Seminua e de Chapéu, 76x79 - 1911 




[1] Cavalcanti, Carlos – Como Entender a Pintura Moderna, Editora Rio – p. 115 à 117.
Guinsburg, J. – O Expresionismo, Editora Perspectiva –p. 390 à 399.
O Fouvismo e o Expressionismo – p. 26 à 36 e 39 à 41.
coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/05/29/arquitetura-expressionista/
girafamania.com.br/historia_arte/historia_arteexpressionista.html

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